“O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.” – João 3:6
“Porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo.” – 1 Pedro 1:16
Recentemente, recebi no meu Facebook dois vídeos bastante intrigantes. Em um deles, uma senhora estava no louvor e durante a ministração cita um palavrão. No outro, um pregador enquanto prega também cita vários palavrões e logo depois “fala em línguas”, chamando todos à espiritualidade.
São dois vídeos e confesso que não fiz uma pesquisa para descobrir outros. Porém, acredito que fatos como esses acontecem em muitos púlpitos. Anos atrás, uma empregada doméstica que prestava serviços na casa de um telepastor denunciou o tom das brigas do casal onde trabalhava. Há também diversas denúncias, onde alguns pastores também relatam os bastidores de muitas reuniões “pastorais”. Ou seja, a tecnologia colocou às claras os bastidores do universo dito “evangélico”.
Evangélico é um termo que se refere àqueles ou àquelas que seguem os Evangelhos, dando referência aos quatro primeiros livros do Novo Testamento da Bíblia Sagrada, o livro de referência para todos que se dizem seguidores e imitadores do Cristo. A esses, a Bíblia não chama de evangélicos, mas sim de cristãos. O termo evangélico é um termo utilizado no Brasil para determinar o diferencial entre católicos e cristãos protestantes, oriundos das igrejas históricas. Foi inicialmente utilizado para referenciar os primeiros pentecostais, porém hoje é praticamente impossível definirmos o alcance do termo, já que, com o surgimento do neopentecostalismo, as definições se tornam bastante difíceis.
Diante dessas transformações, eu pergunto: para que serve a espiritualidade diante de evolução tecnológica, onde tudo é possível ser criado e copiado? Onde até mesmo o Evangelho é recriado com novos valores e verdadeiras fórmulas de felicidade, prosperidade, saúde?
Estamos vendo esse outro Evangelho, criado por esses novos sistemas, criando seres egocêntricos, individualistas, porém enraizados dentro dos sistemas institucionalizados que muitos ainda chamam de igrejas evangélicas.
Eu digo sempre que o trabalho da igreja é produzir espiritualidade, porém tem que ser bíblica. A espiritualidade nos conecta a Deus e nos ajuda a ter Sua percepção e forma no cotidiano. E isso não é uma tarefa fácil, pois, como diz Paulo, nossa carne pecadora milita continuamente com nosso Espírito.
O texto de início traz essa referência. O próprio Jesus disse que nos é preciso nascer do Espírito. E esse nascer do Espírito exige de nós uma vivência também no Espírito.
Para muitos, a única referência de espiritualidade é a igreja institucional, mas em muitos contextos a igreja é unicamente uma casa de interesses. E o que muitos chamam de espiritualidade nada mais é do que produtos a serem explorados em nome de uma espiritualidade.
Só há um sentido em ir em uma igreja: é a busca pela espiritualidade. E essa espiritualidade não pode ser líquida, não pode escorrer entre os nossos dedos. Ela só tem sentido se for sólida e palpável.
Se não há espiritualidade, a igreja perde sua essência e se torna um simples clube. Uma verdadeira espiritualidade sempre nos conduz à esperança, uma esperança que nos faz melhores.
Digo sempre que é impossível crer em Deus sem que essa crença produza em nós o desejo de sermos melhores. Isso só é possível se andarmos no Espírito como Cristo andou. E se andarmos no Espírito, o Apóstolo Paulo nos afirma em Gálatas 5:23 que teremos em nós os frutos do Espírito, afinal somos templo do Espírito.
Em posse desses frutos, seremos capacitados na prática do perdão, do amor e da esperança.
Com tantos ditos “evangélicos” no Brasil, acredito que se a espiritualidade fosse a essência de muitas igrejas, nós teríamos um país cheio dos frutos do Espírito.
Estamos vivendo um grande mal, que impede a igreja de ser espiritual. Tenho acompanhado isso em todos os cantos do país. Esse grande mal é o profissionalismo da fé. São pregadores, cantores, músicos, professores, escolas, faculdades, seminários, enfim… Esse profissionalismo tem produzido livros, músicas, mas o grande mal está no fato de que esses profissionais produzem dogmas, falsas verdades, costumes, transformando, em muitos redutos, grandes mentiras em grandes verdades.
Esses profissionais não produzem espiritualidade, pois a essência de seus atos não está em testemunhar os Evangelhos e produzir imitadores de Cristo, fazendo com que os que o ouvem não passem pelo desejo de transformação e novo nascimento que só o Espírito Santo pode produzir nos seres humanos. Os frutos do Espírito só estão disponíveis àqueles que nascerem de novo e buscarem continuamente uma vida no Espírito.
Tenho visto pregadores criando “modinhas”, com frases de efeito, com slogans, com logotipos, tudo em nome do sucesso pessoal e ministerial. Porém, isso é facilmente refletido nos frutos da carne, que Paulo fala em Gálatas 5: 19-21.
O que muitos não se apercebem é que viver embaixo de uma fé profissional os coloca no risco de uma alienação espiritual. Muitos já estão assim. Por isso, estamos vendo, a cada dia mais, os muitos ditos evangélicos vivendo tão longe dos ensinamentos de Cristo. São ditos evangélicos que defendem o aborto, a tortura, a violência, a matança, que não perdoam, que não amam, que não respeitam as autoridades nem os país, que vivem muitas vezes, muito pior do que pessoas desprovidas de qualquer religiosidade.
Tenho visto muitos ditos evangélicos rancorosos, vingativos, irados, ascorosos, pessoas de difícil convívio, ou seja, pessoas que só o texto de 2 Timóteo 3 pode definir.
Quer ver um exemplo disso? Tente dialogar com muitos ditos evangélicos sobre direitos humanos. É dessa alienação que estou falando.
É preciso entender que a espiritualidade vai além das emoções, a espiritualidade nos dá consciência e capacita-nos ao amadurecimento e crescimento espiritual. A falta de espiritualidade faz da igreja brasileira e seus líderes e membros em muitos redutos uma igreja imatura, infantilizada. Quando digo isso, estou falando diante de uma vivência, acompanhando e vendo o que tem acontecido em muitos cantos.
Isso já acontecia desde os dias de Paulo em Corinto e em outros cantos. Suas cartas pastorais foram escritas no sentido de que as futuras gerações aprendessem com as primeiras igrejas. É lamentável que, para muitos, os textos de Paulo só sirvam para justificar regras, normas e dogmas. Cito isso como no uso dos textos paulinos para justificar a criação do cargo de apóstolo nos dias atuais.
Com tudo isso, a espiritualidade tem ficado em segundo plano. Para muitos, ela nem sequer existe e quando é falada não tem sentido.
A espiritualidade é aquilo que dá sentido à nossa fé. E nos abre caminho na direção de Deus, pois ela é refletida na Palavra de Deus.
Que possamos buscar a espiritualidade bíblica, fugir dos profissionais da fé e que nossa espiritualidade seja perceptível por todos que nos rodeiam. Só assim Deus também será percebido no nosso mundo.
A DEUS toda a honra e toda a glória.