Grandes coisas fez o Senhor por nós, pelas quais estamos alegres. – Salmos 126:3
Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério. – 2 Timóteo 4:5
Parece que foi ontem, mas dez anos se passaram. Uma conversa na sala da minha casa, vinda da indignação com a realidade de muitas igrejas evangélicas, e veio uma ideia à nossa mente: precisamos fazer alguma coisa para mudar essa realidade.
Éramos somos eu e minha esposa. E a pergunta foi: como duas pessoas podem enfrentar as contínuas horas dos telepastores e dos pregadores nas milhares de rádios, vindos de milhares de igrejas espalhadas por esse país? A resposta era: é impossível.
Porém, diz a Bíblia que o que é impossível para os homens é possível para Deus (Lucas 18:27).
Assim nasceu, através da fé de que Deus faz das coisas loucas algo para confundir as sábias, e que faz das coisas pequenas algo para sobrepor até mesmo as grandes potenciais, o MEEB (Movimento pela Ética Evangélica Brasileira) no ano de 2009.
Não sabíamos como fazer, porém tínhamos em nossos corações que a realidade da igreja evangélica brasileira não estava em conformidade com as Sagradas Escrituras. Que o grande comércio, que as contínuas barganhas e a sede desenfreada de muitos líderes e pastores não estavam enquadrados nos ensinamentos de Jesus nem nas doutrinas dos apóstolos de Cristo. Que líderes como Macedo, Malafaia, Santiago, Terra Nova e outros criaram suas próprias teologias, teologias essas muito distantes das essências do verdadeiro Cristianismo.
Nosso primeiro passo foi criar dois blogs, com o intuito de divulgar os pensamentos e conscientizar o povo evangélico sobre a realidade e apontar formas de mudança. Porém, nesse intervalo o Brasil foi abalado com a vinda de Morris Cerullo a convite de Silas Malafaia, com uma ideia de que os fiéis poderiam adquirir por 900 reais uma chamada “unção financeira”, ou seja, compre essa unção e acabe com os seus problemas financeiros, essa era a promessa. Então, subitamente, minha esposa cria uma camiseta e parte para um evento (Expo Cristã) no intuito de chamar a atenção dos evangélicos para essa vergonha.
Essa simples camiseta, despertando a muitos sobre o fato, nos mostrou que Deus queria que fôssemos ao povo evangélico brasileiro. Então, nasce em meu coração a frase que iria guiar todas as ações do MEEB. Até então não tínhamos noção do que estávamos criando, pois até então tudo se resumia a mim, minha esposa e o Espírito Santo na sala do nosso apartamento. A frase era:
Voltemos ao Evangelho puro e simples,
O $how tem que parar!
Na mesma semana em que estávamos envolvidos em tudo isso, o Brasil recebia a notícia de que o auto-intitulado Apóstolo Estevam Hernandes, após cumprir prisão dos Estados Unidos, estava retornando ao Brasil e sua apoteose seria em uma Marcha para Jesus em São Paulo. Nossos corações arderam. Primeiramente, em indignação e depois veio a nós que esse era o lugar em que deveríamos estar.
Então, confeccionamos uma simples faixa de papel com a frase “slogan” do movimento, fizemos uma camiseta com a mesma frase e um versículo nas costas, referindo que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males, para que todos soubessem que nós desaprovávamos a apoteose dos Hernandes.
Publicamos em nossos blogs que estaríamos no evento praticando esse ato.
Partimos para o evento, imaginando que eu e ela estaríamos diante da multidão. Mas fomos surpreendidos pela ação do Espírito Santo, pois mais seis pessoas atenderam ao toque do Espírito Santo e foram na batalha conosco.
Um pouco do que aconteceu está no vídeo abaixo.
Esse vídeo se espalhou por todo o canto. Em questão de meses, o vídeo fora visto em todos os cantos do país. Passamos a receber ligações de todo o Brasil e até do exterior. Alguns queriam apoiar, outros querendo ofertar, alguns querendo participar e o que dizíamos era: faça o mesmo onde você estiver.
O que me surpreendia era muita gente querendo saber quanto custava para participar e quanto custava a camiseta. E quando respondíamos que a arte da camiseta estava disponível nos blogs, muitos se admiravam. Algumas pessoas perguntavam se podiam fazer a camiseta e vender.
Em pouco tempo, começamos a ser procurados por revistas, periódicos, jornais evangélicos de todo o Brasil. Nossa primeira entrevista em uma revista da Igreja Anglicana tinha por título O Blog que vai virar Igreja. E eu sempre dizia: não sei o que vai se tornar, eu só sei o que Deus nos dizia: cumpre o seu ministério.
Não demorou, e em outros eventos em que fomos participar fomos surpreendidos pelos seguranças do dono da Marcha para Jesus, e fomos agredidos e tivemos nossas faixas retiradas. O sr. Hernandes, quando perguntado por um jornal sobre a nossa presença, disse que éramos “insignificantes”. Essa palavra é o grande referencial do nosso movimento.
Realmente éramos e somos até hoje insignificantes.
Porém, o que Deus nos inspirou na sala de nossa casa em pouco tempo começou a se repetir em todos os cantos do país. Começamos a receber fotos, vídeos e relatos de pessoas reproduzindo a frase, confeccionando camisetas, faixas, e indo diante de igrejas e eventos, e chamando a igreja à consciência de que a igreja deveria voltar ao Evangelho puro e simples de Jesus e que o $how do comércio, das barganhas e heresias deveria parar. Ao ponto de que todo esse movimento chegou à grande mídia e fomos convidados a participar de uma matéria na Revista Época, onde relatava a realidade dos Novos Evangélicos.
Nós até então estávamos atônitos com tudo, porque nunca gastamos um único centavo com mídia, com nada, apenas nos deixando conduzir pelo interesse das pessoas em saber o que era o Evangelho puro e simples e porque o $how tem que parar. Participamos de documentário, mas uma coisa sempre nos chamou a atenção: nunca recebemos apoio nenhum de nenhuma igreja, ministério ou pregador ou grande líder. Se fôssemos enumerar as pessoas que nos apoiaram nesse período, contaríamos nos dedos. As únicas pessoas que caminharam conosco e nos propiciaram alguma forma e condições de podermos divulgar nosso trabalho foi o casal Luciana Mazza e Marcelo Rebello, organizadores do antigo Salão Internacional Gospel, evento esse no qual sempre tivemos total liberdade para agir em prol de uma consciência verdadeiramente cristã.
Mesmo assim, tive oportunidade de pregar em inúmeras igrejas, em vários cantos.
Com tudo isso, descobrimos algo. A mensagem é para poucos, pois o Evangelho puro e simples de Jesus é totalmente contrário à Teologia da Prosperidade, à Teologia da Barganha e à Teologia do Poder Político dos telepastores brasileiros.
Não demorou e começaram a aparecer ameaças de processos judiciais, xingamentos em programas de TV. Éramos citados como os blogueiros filhos do diabo, blogueiros invejosos, porém a cada dia sabíamos e recebíamos relatos de que muitos estavam tendo seus olhos abertos pelo Espírito Santo de Deus. E as verdades do Evangelho de Cristo estavam prevalecendo em muitas vidas.
Começamos a ver igrejas e ministérios mudando de rumo e começando a praticar o Evangelho puro e simples de Jesus.
Em tudo isso, descobrimos que a igreja evangélica brasileira está mais voltada para as emoções do que para a razão. Que a igreja evangélica, em muitos ministérios, está focada unicamente nos números, nas quantidades e na arrecadação. Que muitos ministérios estão distantes da consciência e da espiritualidade verdadeiramente cristãs.
Descobrimos, dia após dia, evento após evento, que muitas igrejas e suas lideranças e membros não sabem dialogar, não sabem fazer uma autocrítica e não suportam ser contrariados. Nós, em simples frases em faixas, camisetas e folhetos, sentimos na pele o quão difícil é levar a igreja brasileira à reflexão, à consciência e ao arrependimento. Que os telepastores, os donos de igrejas são crianças mimadas que não suportam e que se revoltam quando têm suas vontades contrariadas. Homens que, com certeza, seriam confrontados pelos verdadeiros apóstolos Paulo, Pedro e João por suas vaidades, por sua ganância e pelo seu desejo desenfreado de viver segundo os valores deste mundo, buscando os tesouros desta terra.
Assistimos pastores demonstrando poder com a aquisição de bens, roupas, imóveis, relógios, carros, numa demonstração grotesca de que o que importa é conquistar este mundo. Enquanto a Bíblia diz que não devemos ajuntar tesouros nessa terra, mas sim tesouros nos céus, os grandes templos, as catedrais, os aviões, os passaportes diplomáticos trocados com alianças políticas e partidárias são divulgados amplamente por toda a mídia, denotando claramente que o importante é prosperar, ganhar, vencer, conquistar, tomar posse, tudo em nome de Deus, fazendo com que as palavras bíblicas como arrependimento, humildade, mansidão, compaixão, perdão, amor ao próximo, piedade, misericórdia se tornem sem nexo.
Começamos a ver que a igreja evangélica brasileira está totalmente cega para as verdades do Evangelho, e que muitas lideranças fazem isso conscientemente, pois buscam o poder. A prova disso são as alianças e as barganhas políticas.
Temos a impressão de que Deus, Jesus, a Bíblia são meros produtos para a arrecadação e enriquecimento dessas lideranças. A prova de tudo isso é que mesmo a igreja evangélica atingindo índices jamais vistos na história do Brasil, seu crescimento em nada impacta o nosso país no sentido de mudança social, cultural, humana e, acima de tudo, de uma espiritualidade bíblica.
Apesar de termos um grande número de evangélicos, ainda somos um país violento, corrupto, miserável, com os piores índices de educação, com uma igreja mal formada, mal educada, com pastores despreparados, com crentes que não conhecem a Bíblia.
Tudo isso porque a igreja não consegue refletir a luz de Cristo ao país, pois falta-lhe uma consciência ético-cristã.
A igreja brasileira, na sua imaturidade, ainda tenta ensinar a Deus a ser Deus, e muitos líderes acreditam ajudar a Deus a fazer a Sua obra, pois se defendem mais as doutrinas do que as Escrituras. Assim temos uma fé puramente denominacional.
Muitos pastores não conseguem viver a sua fé sem a sua denominação. É como se Deus se sujeitasse às vontades da sua denominação. Não há liberdade para muitos se não estiver debaixo da denominação.
Temos uma igreja que não sabe servir, uma igreja que só sabe ser empresa e reagir ao mercado.
Temos pastores não convertidos, liderando igrejas através de técnicas gerenciais, onde a espiritualidade se resume a números. Pastores reféns de estruturas puramente empresariais. Com isso, temos muitas igrejas que sequer sabem o que é fé.
Muitos jamais viveram uma espiritualidade verdadeira, pois tudo gira em torno do emocional, do empresarial, do místico. A igreja não sabe viver o Cristianismo sem emoções e sem o denominacionalismo.
Em muitos lugares, não há liberdade.
Quando o MEEB diz que a igreja precisa voltar ao Evangelho puro e simples de Jesus e que o $how tem que parar, estamos querendo dizer que a igreja precisa voltar a ser um local de libertação, de crescimento e acima de tudo, o local onde a Verdade que é Cristo esteja no coração das pessoas. E assim poderemos dizer que a prática do amor verdadeiro é o verdadeiro sentido da igreja.
Que não sejamos conhecidos pelo tamanho das nossas catedrais ou pela riqueza dos nossos líderes ou pela aliança com políticos e partidos, mas que sejamos conhecidos por nossa ética, como promotores da justiça, da paz, e acima de tudo pelo nosso amor uns para com os outros.
Nesses dez anos descobrimos que o nosso trabalho foi levantado por Deus para conscientizar a igreja brasileira de que precisamos voltar a Cristo, pois não há um nome sequer no mundo pelo qual possamos nos salvar, senão a Cristo.
Sabemos que estamos na contramão, pois assim estiveram os apóstolos, os pais da igreja, assim estiveram os mártires, assim estiveram todos aqueles que ousaram viver as verdades do Evangelho.
Até onde iremos? Iremos até onde o Evangelho nos conduzir.
Sabemos que as Escrituras nos revelam que há muito por vir ainda, mas cremos que assim como Deus levantou os seus profetas, os seus apóstolos, Deus sempre levantará os seus, mesmo que sejam as pedras. Mas a Sua Palavra e as Suas Essências serão levadas adiante.
Nesses dez anos, não foi a violência, não foram as ameaças, não foram as caras feias, não foram os dedos apontados que nos desanimaram, pois estamos convictos de que o Senhor é conosco. Só estamos exercendo o ministério que Deus confiou a nós.
Agradecemos a todos os irmãos e irmãs de todos os cantos que estiveram conosco pessoalmente, por palavras nas redes sociais, muitos que nós nunca conhecemos mas que sempre estiveram conosco ajudando, intercedendo. Nesses dez anos, vimos com os nossos olhos que o nosso Redentor vive e reina, e por isso continuaremos levando essa mensagem.
A DEUS toda a honra e toda a glória. Que Ele sempre cresça, e que nós sempre venhamos a diminuir.