“Mas o que eu faço o farei, para cortar ocasião aos que buscam ocasião, a fim de que, naquilo em que se gloriam, sejam achados assim como nós.
Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo.
E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz.” – 2 Coríntios 11:12-14
A revelação, através do testemunho de centenas de mulheres, de que o famoso médium espírita João de Deus cometeu abusos e estupros por décadas deixou muita gente indignada. Afinal, o tal médium era um exemplo de bondade. A instituição que comandava fazia um belo trabalho assistencial e havia milhares de relatos de curas obtidas através de suas cirurgias espirituais, a tal ponto que o médium era reverenciado por artistas e políticos e conhecido internacionalmente.
É óbvio que a suposta psicopatia que acomete esse ser não significa que todos os espíritas são assim. Da mesma forma, há padres pedófilos e outros muito dignos de sua batina. E há pastores estupradores e pilantras e outros que são verdadeiros homens de Deus.
Porém, um ponto é intrigante: como foi possível a João de Deus enganar a todos por tanto tempo (4 décadas pelo menos)? Como um ser tão abjeto podia apresentar frutos tão bons, como os da caridade e da cura de doenças?
Na Doutrina Espírita é muito clara a observação do caráter do médium. Este deve se manter ética e moralmente incorrupto para poder atrair aos espíritos de luz. Caso se desvie em algum momento para o mal (pode ser por pensamentos, por uma bebedeira ou mesmo por grandes corrupções), os espíritos de luz se afastam e no seu lugar se colocam os espíritos obsessores, por portarem energia semelhante à apresentada pelo médium no momento em que está em erro. Em outras palavras, é o mesmo ensino dos ministérios evangélicos de cura interior e libertação, a tal lei da “brecha”, na qual o crente em pecado não confessado (pecado próprio e dos antepassados também) atrai os demônios, que se acham no direito legal de ditar a vida da pessoa.
Porém, Allan Kardec e cia. ensinam que é razoavelmente fácil desmascarar um falso espírita. Basta ver seus frutos, ou seja, verificar os ensinos que os espíritos ditam através do médium. Um espírito obsessor não ensinará o bem. Pode até enganar com bonitas palavras, mas nas entrelinhas deixará sua marca. Precaução semelhante a que os cristãos precisam ter para evitar falsos ensinos.
Para conhecer os frutos aparentes de João de Deus, recomendo muitíssimo reportagem da revista IstoÉ de 2012 (clique aqui). Lendo-a, temos a visão de um verdadeiro homem guiado por Deus e que manifesta seus milagres. Porém, dessa reportagem retiro o seguinte e intrigante trecho:
“Depois, passou algum tempo com o médium Chico Xavier, a quem chama de “papa do espiritismo”. “Íamos em caravanas para o interior de Minas e Goiás”, diz. Foi, segundo ele, Chico Xavier quem lhe pediu para que não deixasse Abadiânia, apesar das perseguições que sofria na cidade, acusado de exercício ilegal da medicina. Em bilhete datado de 18 de setembro de 1993, Chico diz: ‘Prezado João, caro amigo, Abadiânia é abençoado recinto de sua iluminada missão e de sua paz.'”
Porém, segundo o site G1:
“Dezenas de mulheres contaram ao jornal “O Globo”, à TV Globo e ao G1 que sofreram abusos sexuais do médium João Teixeira, conhecido como João de Deus. A violência ocorria, segundo elas, durante atendimentos individuais em Abadiânia (GO). Há casos desde a década de 1980 até outubro deste ano.“
Ou seja, se o maior dos médiuns brasileiros Chico Xavier avalizava o trabalho de João de Deus, das duas uma: ou Chico Xavier sabia de tudo e era cúmplice, ou não sabia de nada e foi também enganado. Só que, se dermos crédito a essa segunda opção, entenderemos que os espíritos de luz que acompanhavam Chico Xavier em sua missão o enganaram propositalmente, ao não revelar o demônio que era João de Deus, e que portanto não eram tão de luz assim. E se dermos crédito à primeira, entenderemos que Chico Xavier era uma fraude completa, assessorado por espíritos do mal e totalmente consciente disso.
Gravíssimo isso, pois João de Deus praticou por décadas crimes terríveis contra centenas (talvez milhares?) de mulheres. Obviamente, não era guiado por bons espíritos. Porém, se os espíritas sérios o tivessem desmascarado, muitas mulheres teriam sido poupadas da violência, humilhação e sofrimento. Por que os espíritos de luz não fizeram nada, numa omissão que seria posteriormente prejudicial à própria Doutrina Espírita?
E tem mais: logo que começaram as denúncias, João de Deus retirou cerca de 35 milhões (isso mesmo, milhões) de suas contas pessoais e no momento encontra-se oficialmente foragido. Como ele juntou tanto dinheiro fazendo “caridade”, fica a critério do leitor.
Sentimos muito pelas vítimas de João de Deus, e sentimos muito por todas as vítimas da manipulação da fé.
Infelizmente, esse não será o primeiro caso e nem o último. Há enganadores em todos os cantos, inclusive dentro das igrejas cristãs. Há quem se utilize da fé e da admiração pessoal para influenciar em benefício próprio. Há quem use o Santo Nome de Deus para conseguir sexo, dinheiro, poder, sucesso. Há quem propagandeie aos quatro ventos meia dúzia de obras sociais nas quais ajuda, para assim justificar sua ânsia por ofertas e sua vida nababesca. Há quem provoque milagres pelo uso da hipnose. E há quem se deixe enganar com tudo isso.
Há muitos “joões-de-deus” em nosso meio, cujas vítimas não são ouvidas por não lhes darem voz nem vez. E essas vítimas se fecham em seu particular sofrimento, sem forças, mas cheias da misericórdia Daquele que veio para os oprimidos.
Que Deus nos abra os olhos para os enganos deste mundo.
De Deus não se zomba. Ele traz luz onde há trevas.
Arrependamo-nos enquanto é tempo.
Voltemos ao Evangelho puro e simples,
O $how tem que parar!
A Deus toda a honra e toda a glória para sempre.
Há também muitos pastores pedófilos.
Sim, há pedófilos em toda parte.